10 de fevereiro de 2014

"Marina" de Carlos Ruiz Zafón



Na época, não sabia que, cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele.(...)Todos temos um segredo trancado a sete chaves no sótão da alma. Este é o meu.
Marina, Pág. 8.

[RESENHA]

Óscar Drai tem 15 anos, ele vive em um internato, e está conformado em ser um mero espectador, que leva uma vida solitária e monótona, onde a maior aventura é caminhar todas as tardes pelas ruas de Barcelona. E em um desses passeios ele acaba em uma ruazinha abandonada, onde as casas aparentam um dia ter sido grandes mansões. Um desses antigos casarões chama a sua atenção, e ele se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um velho relógio de bolso quebrado. Assustado com uma inesperada presença na sala onde estava, ele foge, levando consigo o relógio. Dias depois, resolve retornar à casa para devolver o objeto roubado, e então conhece Marina, e o amigável e doente pai da garota, Germán.
Óscar e Marina acabam envolvidos sem querer em uma antiga e triste história do passado, de uma Barcelona dos anos 40, bem diferente da que eles conhecem (década de 70). Eles passam a investigar o mistério que envolve a mulher vestida de negro, que sempre visita um túmulo sem nome em um antigo cemitério da cidade

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O autor nos mostra que não podemos nos esconder do que vivemos, mas podemos sim visitar o passado e olhá-lo de uma maneira diferente. E trata principalmente nesta obra da morte, nos apresentando seu lado mais aterrador, qual seja o medo de perecer, o apego ao físico e a tentativa constante de conservar o sopro da vida, e o lado brando, aquele em que o inevitável deve ser aceito e enfrentado com coragem.

E talvez, por isso, não há definição melhor para a escrita de Zafón do que atormentada.

O tom dramático que Zafón insere em seus livros nos faz quase sentir o que o personagem sente, como ele sente, ele faz uma mistura do real e do sobrenatural, que é impossível não ficar com aquela sensação de dúvida e desespero. Na sua escrita, tudo tem uma razão de existir, e em vários trechos somos levados a refletir acerca do ser humano, seu caráter, e principalmente sobre o passado e como suas escolhas interferem no futuro. O passado é, por sinal, o maior fantasma de todos os personagens, é o que causa mais medo, dor, tormento.

O primeiro livro que tive contato foi “A Sombra do Vento”, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo todo, e uma amiga super empolgada com a obra, me emprestou. Mas como estava em uma época complicada de TCC, confesso que não dei a devida atenção ao título, e não cheguei nem ao 4º capítulo antes de devolvê-lo. E com esse peso na consciência, permaneci até o fim do ano passado, quando “ganhei” de um amigo um exemplar.

Depois de devorar “A Sombra do Vento” em duas semanas, terminei ontem, depois de 3 dias de leitura “Prisioneiro do Céu”, e estou quase terminando“Marina” (que estou lendo em pdf. – aceito o livro físico de presente!), e louca pra comprar “O Jogo do Anjo”.

Os trabalhos de Záfon foram publicados em 45 países, e traduzidos em mais de 30 idiomas, sendo assim um dos mais bem sucedidos escritores espanhóis da atualidade.

Ainda não tive contato com a “Trilogia da Névoa” (O Princípe da Névoa, O Palácio da Meia Noite e As Luzes de Setembro), série marca a estreia literária de Zafón e que foi feita para o público mais jovem.
Segundo o próprio autor, em entrevista concedida a imprensa espanhola, a série tratada de “romances que teria gostado de ler quando tinha 13, 14 anos, mas que continuasse a me interessar também aos 23, 43 ou 83 anos“, e talvez isso se dê porque mesmo sendo destina ao público infanto-juvenil, a série ao que parece, é cheia de mistério e aventura, característica da sua escrita.

Zafón é um autêntico contador de histórias, que empresta sua cidade natal como pano de fundo para as suas obras, e mergulhar na Barcelona “perdida” de Zaffón, é como fazer uma viagem, tanto pelo Tempo como pelo Espaço, em que o destino nunca é aquele que se está à espera, e o passado sempre é um presente que nos atormenta.

Sua linguagem "melancólica" nos prende a cada página, com suas histórias cheias de belas incógnitas e toques macabros, que nos acompanha a grandes doses de romantismo decadente, que andavam fazendo falta na minha estante ao se falar de escritores contemporâneos. Por isso: Recomendo!


Boa leitura!




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