Na época, não sabia que, cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve
as lembranças que enterramos nele.(...)Todos temos um segredo trancado a sete
chaves no sótão da alma. Este é o meu.
Marina, Pág. 8.
[RESENHA]
Óscar Drai tem 15 anos, ele vive em um internato,
e está conformado em ser
um mero espectador, que leva uma vida solitária e monótona, onde a maior
aventura é caminhar todas as tardes pelas ruas de Barcelona. E em um desses passeios ele
acaba em uma ruazinha abandonada, onde as casas aparentam um dia ter sido
grandes mansões.
Um desses antigos casarões chama a sua atenção, e ele se aventura a entrar na
casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um velho
relógio de bolso quebrado. Assustado com uma inesperada presença na sala onde
estava, ele foge, levando consigo o relógio. Dias depois, resolve retornar à
casa para devolver o objeto roubado, e então conhece Marina, e
o amigável e doente pai da garota, Germán.
Óscar
e Marina acabam envolvidos sem querer em uma antiga e triste história do
passado, de uma Barcelona dos anos 40, bem diferente da que eles conhecem
(década de 70). Eles passam a investigar o mistério que envolve a mulher
vestida de negro, que sempre visita um túmulo sem nome em um antigo cemitério
da cidade
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O autor nos mostra que não
podemos nos esconder do que vivemos, mas podemos sim visitar o passado e olhá-lo
de uma maneira diferente. E trata principalmente nesta obra da morte, nos
apresentando seu lado mais aterrador, qual seja o medo de perecer, o apego ao
físico e a tentativa constante de conservar o sopro da vida, e o lado brando,
aquele em que o inevitável deve ser aceito e enfrentado com coragem.
E talvez, por isso, não
há definição melhor para a escrita de Zafón do que atormentada.
O tom dramático que Zafón insere em
seus livros nos faz quase sentir o que o personagem sente, como ele sente, ele
faz uma mistura do real e do sobrenatural, que é impossível não ficar com
aquela sensação de dúvida e desespero. Na sua escrita, tudo tem uma razão de
existir, e em vários trechos somos levados a refletir acerca do ser humano, seu
caráter, e principalmente sobre o passado e como suas escolhas interferem no
futuro. O passado é, por sinal, o maior fantasma de todos os personagens, é o
que causa mais medo, dor, tormento.
O primeiro livro que tive
contato foi “A Sombra do Vento”, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares no
mundo todo, e uma amiga super empolgada com a obra, me emprestou. Mas como
estava em uma época complicada de TCC, confesso que não dei a devida atenção ao
título, e não cheguei nem ao 4º capítulo antes de devolvê-lo. E com esse peso na consciência,
permaneci até o fim do ano passado, quando “ganhei” de um amigo um exemplar.
Depois de devorar “A
Sombra do Vento” em duas semanas, terminei ontem, depois de 3 dias de leitura “Prisioneiro
do Céu”, e estou quase terminando“Marina” (que estou lendo em pdf. – aceito o
livro físico de presente!), e louca pra comprar “O Jogo do Anjo”.
Os trabalhos de Záfon
foram publicados em 45 países, e traduzidos em mais de 30 idiomas, sendo assim um
dos mais bem sucedidos escritores espanhóis da atualidade.
Ainda não tive contato
com a “Trilogia da Névoa” (O Princípe da Névoa, O Palácio da Meia Noite e As
Luzes de Setembro), série marca a estreia literária de Zafón
e que foi feita para o público mais jovem.
Segundo o próprio autor,
em entrevista concedida a imprensa espanhola, a série tratada de “romances
que teria gostado de ler quando tinha 13, 14 anos, mas que continuasse a me
interessar também aos 23, 43 ou 83 anos“, e talvez isso se dê porque mesmo
sendo destina ao público infanto-juvenil, a série ao que parece, é cheia de
mistério e aventura, característica da sua escrita.
Zafón é um autêntico
contador de histórias, que empresta sua cidade natal como pano de fundo para as
suas obras, e mergulhar na Barcelona “perdida” de Zaffón, é como fazer uma
viagem, tanto pelo Tempo como pelo Espaço, em que o destino nunca é aquele que
se está à espera, e o passado sempre é um presente que nos atormenta.
Sua linguagem "melancólica"
nos prende a cada página, com suas histórias cheias de belas incógnitas e toques
macabros, que nos acompanha a grandes doses de romantismo decadente, que
andavam fazendo falta na minha estante ao se falar de escritores contemporâneos.
Por isso: Recomendo!
Boa leitura!
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